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Por aqui, também já vivemos a
experiência de ter o pai por perto apenas algumas vezes por ano, quando ele foi
trabalhar para Moçambique. Depois, juntámo-nos todos lá e essa época foi, na
realidade, a única em que vivemos todos juntos 7 dias por semana. Agora que
regressámos a Portugal, regressámos também à rotina de a semana ser passada só
com a mãe e o fim de semana com a mãe e o pai.
Nós não temos família num raio de
quase 200 km. Recorremos aos amigos quando estamos MESMO a precisar, mas a
verdade é que cada um tem a sua vida, com as suas próprias dificuldades, e, por
pensar que posso estar a incomodar, é algo que evito a todo custo. Até agora, cá
nos temos arranjado. Mas o facto é que esta é a realidade de muitas famílias,
infelizmente.
Quando tudo corre bem e os miúdos
estão saudáveis, os dias passam sem dificuldades de maior. Há a casa, as
refeições, os banhos e as birras típicas do final do dia para gerir, como em
qualquer outra casa, mas tudo se vai fazendo. Uns dias melhor, com a sensação
absoluta de dever cumprido; outros dias menos bem, em que a impaciência vence e
em que à noite, quando finalmente sentimos o silêncio, admitimos que podíamos
ter feito diferente (e, talvez, melhor…).
No meu caso, as dificuldades
surgem quando algum deles adoece (felizmente, coisa pouco frequente, por aqui).
Como fazer para levar o outro à escola? Optamos por ficar com os dois em casa?
E quando o mais velho já estiver no primeiro ciclo e não puder faltar? Levamos
os dois no carro, vamos a correr entregar o filho saudável e regressamos a casa
com o filho doente até chegar a hora de ir novamente buscar o irmão/irmã? Aqui
já se adotaram as duas estratégias. E também já pedimos ajuda a amigos e aos avós que,
nesta casa, não há supermulheres e, às vezes, não consigo mesmo dar conta do
recado sozinha.
Não estou a trabalhar fora de
casa. Não tenho um sítio onde estar, impreterivelmente, até determinada hora.
Não tenho horários rígidos a cumprir. Vivo a três passos da escola dos meus
filhos. Isto é um privilégio. O que não falta neste país são mães, sozinhas com
filhos pequenos, a levantarem-se quase de madrugada para conseguirem deixar
tudo orientado em casa antes de acordarem e prepararem os filhos, e saírem
todos para o trabalho e para a escola.
Por saber que há muitas realidades diferentes da minha, não me queixo e sou muita grata pela vida que estamos a construir. Tenho a possibilidade de escolher a vida que quero para mim e para os meus. Na verdade, o que eu tenho é um não problema.
Ainda assim, como muitas outras
mães, sinto sobre mim uma responsabilidade enorme e isto, por vezes, é avassalador.
Sinto sobre os meus ombros a tarefa não só de os educar para os valores por que
nos regemos enquanto família – como qualquer mãe ou pai, mais ou menos presente
fisicamente –, mas também a tarefa de gerir todos os aspetos logísticos de uma
família.
Sei que sou uma mãe mais
stressada e exigente exatamente porque sinto que (quase) nada pode sair dos
eixos, das rotinas. Quando isso acontece, há logo o jantar que fica para mais
tarde, a mais nova que faz birra porque já tem sono e que, depois, não quer a
sopa. E no meio de mais um atraso – às vezes são só 30 ou 45 minutos, mas que
na logística dos dias fazem diferença – a hora de deitar também avança e então a
R. já demora mais tempo a adormecer ou já exige a minha presença para o fazer.
E o irmão fica sempre à minha espera para lhe contar uma história. Conclusão:
no fim disto tudo, o tempo que defino só para mim, para ler ou para vegetar em
frente à TV a ver uma série, acaba substancialmente reduzido – isto se não
optar por ir logo enfiar-me na cama também.
E depois há os medos. E fico,
ainda, mais stressada. Depois de jantarmos, enquanto dou um jeito à louça, os
miúdos gostam de ficar comigo, por ali, na cozinha, a brincar. Mas o meu filho
está numa fase em que as suas brincadeiras passam sobretudo por lutas e
corridas. Ora, a pequenina, como qualquer irmã mais nova que se preze, alinha
em TODAS as brincadeiras do irmão – e quanto mais perigosas divertidas
forem, melhor. E é aqui que entra o meu pânico. Se um deles se magoa (a sério)
como é que eu faço para ir com os dois ao hospital, à noite? E imagino os
cenários mais mirabolantes. Então, o que é que eu faço? Mando-os parar com a
brincadeira e peço-lhes, quase em tom de ordem, que vão para a sala fazer um
desenho, um puzzle ou ver um livro. E, a seguir, sinto-me a mãe mais desmancha
prazeres e chata deste mundo.
Mães deste país, como é que
fazem? É possível estarmos sozinhas com os filhos e baixarmos a guarda? Como é
que gerem os conflitos entre a mulher-mãe e a mulher-mulher?
Contem-nos as vossas experiências.
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