Quem nos acompanha sabe que a
promoção da leitura é um tema que nos agrada bastante. Formadas em Línguas e
Literaturas, trazemos em nós o bichinho das letras e das histórias e tentamos,
diariamente, incutir este gosto pelos livros e pela palavra aos nossos filhos.
Assim, a nossa entrevistada de hoje não podia vir mais a propósito.
Apresentamo-vos a Maria João Travassos, promotora e mediadora de
leitura.
O
que é que fazia antes de arrancar com este projeto? Em que área trabalhava?
A minha formação de base é
uma licenciatura em educação de infância, profissão que exerci durante 16 anos, até que chegou o dia em que senti que, por motivos pessoais e familiares,
o meu trabalho nas salas de creche e jardim-de-infância tinha de chegar ao fim.
Por isso, com a sensação de missão cumprida, desisti da minha carreira de
educadora para ir percorrer outros caminhos que sabia que tinham de se cruzar
com a infância, que é a minha paixão, com o livro infantil, por acreditar desde cedo, na minha prática pedagógica e na minha experiência como mãe, na
potencialidade dos livros junto de uma criança e, inevitavelmente, com a
parentalidade.
Como surgiu a ideia de ser
contadora de histórias e promotora da leitura para o público
infanto-juvenil?
Ao contrário do que possa
parecer, eu não acordei um dia de manhã a pensar “vou ser contadora de
histórias”. Teria sido bem mais fácil mas não foi assim que aconteceu, foi uma
situação que foi “acontecendo”. A dada altura da minha vida, sabia o que não
queria para mim e, partindo daí, comecei a construir o meu próprio caminho que
me trouxe até ao projeto de promoção e mediação da leitura que estou
atualmente a desenvolver. Neste percurso, fui tirar uma pós-graduação em livro
infantil na Universidade Católica, que foi uma forma de cumprir um objetivo
adiado há tempo demais, de formalizar algum conhecimento empírico que tinha
adquirido com a experiência e de aprender muito mais coisas novas sobre um tema
que para mim fazia cada vez mais sentido. Perguntaram-me na entrevista de
admissão porque tinha escolhido aquele curso específico e o que queria fazer
depois de o acabar. Fiquei paralisada, sem saber o que responder até que me
ocorreu dizer a mais pura das verdades: “não sei, mas espero vir a descobrir”.
E descobri… descobri uma forma de conseguir conciliar o interesse profissional
com a vida pessoal de forma equilibrada.
Há quanto tempo começou a
dedicar-se a este projeto?
Deixei o meu trabalho em
novembro de 2016. Durante o primeiro ano, dediquei-me a organizar a minha vida
familiar que tinha sido uma das primeiras razões pelas quais deixei de ser
educadora. Dediquei-me também ao estudo, tirei a pós-graduação e estudei para
certificar o meu inglês através do exame da Cambridge, pois eram dois
objetivos pessoais que, como já referi, estavam adiados há tempo demais. Em setembro de 2017, com estes primeiros objetivos alcançados e com alguma ideia
(que não passava ainda disso mesmo) do tipo de projeto que queria desenvolver, foi tempo de “calçar os sapatos certos” e começar a palmilhar caminho. Às vezes ainda é assustador pensar que no espaço de 1 ano e uns meses tanta coisa aconteceu.
Agora, esta atividade
representa o seu trabalho a tempo inteiro?
Neste momento divido-me
essencialmente entre o projeto de promoção de leitura e a minha vida familiar.
Sou casada, mãe de dois filhos (maravilhosos) em idade escolar e o meu marido
viaja muito por motivos profissionais. Faço questão de ter uma ocupação profissional,
faço-o com gosto e dedicação, mas quero poder estar presente e disponível para
a minha família. Foi esse o equilíbrio que procurei na minha vida e isso pesa
muito na hora de tomar decisões profissionais.
Qual é a sua missão? Pode-nos
descrever o que faz exatamente? O que faz uma promotora da leitura, em
concreto?
A minha missão é ajudar a
criar mais e melhores leitores. Eu não quero que sejam daquele tipo de leitores
que contabilizam os livros que leem só para fazer número na prateleira. Eu
quero que as crianças e os jovens vejam o livro como um objeto afetivo, com
infinitas possibilidades e que retirem o máximo prazer da sua exploração e
leitura. Claro que, quando falo nas crianças, tenho de falar nos adultos que as
rodeiam porque são eles que as vão ajudar a descobrirem esse mundo
fantástico que é o livro. Por isso, quando desenvolvo o meu trabalho peço
sempre que seja na presença dos pais, familiares, prestadores de cuidados ou,
quando é nas escolas, trabalho também com os educadores e professores.
Agora a parte mais formal da questão: o que faz uma mediadora e promotora da leitura? Essa pergunta é sempre difícil de responder. Ainda no outro dia fui à escola da minha filha, que anda no 5.º ano, e os colegas perguntaram qual era a minha profissão! Eu costumo dizer, para simplificar, que sou contadora de histórias, mas o que faço é um pouco mais complexo do que isso. A mediação da leitura é mais do que ler um livro, é criar pontes entre o livro e o leitor. No entanto, não basta ter entusiasmo ou empenho para ser um bom mediador de leitura, é preciso informação, é preciso o próprio ser um leitor e aprofundar o conhecimento sobre o livro infantil nas suas várias vertentes. É aqui que entra o meu trabalho como promotora da leitura que assenta nestes pressupostos: despertar o público adulto para a importância do livro infantil, dotá-lo de competências ao nível da escolha e da qualidade dos livros e ajudar os técnicos de educação com técnicas e ideias para a mediação da leitura.
Faço-o através da realização em família de sessões de hora do conto, de oficinas de atividades plásticas relativas às histórias contadas (por exemplo, construção de fantoches ou de livros escritos e ilustrados pelos próprios), da realização de sessões de escrita criativa com jovens, da dinamização de jogos relacionados com a leitura, sessões de esclarecimento para pais e famílias e sessões de formação para técnicos da área.
Com quem trabalha? Como é que
chega até aos seus "clientes", como é que divulga os seus serviços?
Trabalho essencialmente
sozinha na elaboração e desenvolvimento do projeto, com o apoio incondicional
dos meus filhos e marido, no seu papel de cobaias para efeitos de estudo de
mercado e de avaliação e fiscalização dos produtos, oficinas, workshops, etc.
Mas para o pôr em prática dependo de parceiros e do público, uma vez que, por
opção, não tenho um espaço próprio e desloco-me aos vários locais onde dinamizo
as minhas atividades. Neste momento, tenho parcerias com centros de estudo,
quintas pedagógicas, livrarias, academias diversas, associações… no fundo, com
entidades ligadas à infância, juventude, famílias e educação.
Ainda sou eu que faço os meus contactos, procuro os locais para apresentar o meu projeto e as minhas atividades. E quando consigo a parceria o objetivo é mantê-la de modo a que haja alguma continuidade no trabalho. Ainda não cheguei ao ponto de ser procurada pelos meus serviços, ainda sou eu que procuro as parcerias. Mas, de um modo geral, tenho sido bem aceite no meio.
O que é que mais gosta de
fazer no seu trabalho?
Posso dizer que gosto de tudo.
Desde a preparação das oficinas e dos workshops, à preparação das horas do conto, à elaboração dos materiais para dinamizar e à partilha do meu saber, tudo me dá
prazer. Mas o que mais me preenche e enche o coração é quando estou a contar ou
a dinamizar. Isto porque eu não o faço com o objetivo de ser uma arte
performativa (não sou palhaço de circo, como costumo dizer) mas faço-o com
paixão e com o objetivo de chegar a cada família, a cada criança do meu
público. O que eles retiram desse momento depende deles, eu estou ali a
partilhar, a dar ferramentas e bases que, depois, cada família aproveita como
achar melhor para si, não há receitas. Esse é talvez o ponto alto da minha
realização profissional.
Um pequeno aparte: adoro a parte de andar a “vasculhar” pelas livrarias, feiras e qualquer sítio onde haja livros. Não procuro necessariamente as novidades ou o que mais se vende, procuro livros que chamem por mim, pela minha imaginação e pela minha vontade de os partilhar com o mundo!
Quais foram as principais
dificuldades que encontrou/encontra ao colocar em prática a sua ideia?
A dificuldade que ainda estou
a tentar ultrapassar é não ter um público fixo que me acompanha. Dependo muito
dos contactos dos parceiros para ter inscrições nas atividades. Ainda não
tenho, como se diz na gíria, “um nome feito”. Há mediadores dos livros e
contadores de histórias que as pessoas acompanham, vão aos sítios onde contam
com regularidade, têm seguidores reais (não me refiro aos virtuais das redes
sociais e afins) e que são convidados para eventos escolares, de bibliotecas e
outros. Eu ainda não consegui isso para mim, mas também estou há pouco tempo no
meio… há muito caminho a percorrer para aí chegar.
E quais foram já as maiores
conquistas?
Sem dúvida que a primeira foi
ter a coragem de dar a volta à minha vida e arriscar uma coisa nova, se bem que
foi mais fácil com o apoio da minha família TODA! Outra conquista que me deixa
muito orgulhosa é que mais de 50% dos contactos feitos aceitam o meu projecto e
acabo por criar as parcerias.
Mas a conquista da qual me orgulho mais é estar a conseguir tirar este projeto do papel e torná-lo em algo real.
Que planos/desejos
profissionais tem para 2018?
O meu plano é que consiga
continuar a levar o projeto avante e que o continue a fazer crescer na medida
das minhas expectativas. Quero (continuar) a contribuir para que haja cada vez
mais e melhores leitores. Através da publicidade, do “passa a palavra” e da
qualidade do meu trabalho, quero começar a ser procurada para parcerias e
projetos, “ganhar nome” no meio.
O meu desejo é conseguir continuar a fazer a diferença nas vidas das famílias com que contacto através das histórias e dos livros.
Quem quiser contratar os seus
serviços como é que a pode contactar?
Como já disse, ainda estou
numa fase de ser eu a fazer os contactos e dependo muito da publicidade “passa a
palavra”, dos contactos que mantive no tempo em que trabalhei na área da
educação e, claro, as redes sociais são fundamentais. Por isso, tenho uma
página no Facebook, tenho o meu email e telefone, que divulgo sempre nos
contactos que faço. Posso ser contactada através do telefone 919817615,
do email maria.joao.travassos@gmail.com ou da
minha página de facebook.
A Maria João é, sem dúvida, um
exemplo a seguir. Lutarmos pelos nossos sonhos, acreditarmos neles e
munirmo-nos de ferramentas que nos ajudem a concretizá-los. E quando o sonho é
bonito, como este, só podemos continuar a acompanhar. Obrigada, Maria João.
Que grande lutadora e mulher corajosa! Parabéns Maria João e muito sucesso para os seus projetos.
ResponderEliminarParabéns pela coragem e inovação. Mulher de armas, sem dúvida, Maria João. Muitos parabéns e felicidades para os seus projetos
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